O Grupo de Teatro Estrada de Indaiatuba, promove junto com a Secretaria de Cultura um mês de atividades voltadas para o teatro.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
GRUPO DE TEATRO ESTRADA COMEMORA 15 ANOS
O Grupo de Teatro Estrada de Indaiatuba, promove junto com a Secretaria de Cultura um mês de atividades voltadas para o teatro.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
JANELAS
Luz apenas em seus rostos
UM
Abra logo as janelas!
Rápido!
Deixe que entre...
OUTRO
Espere!
UM
Abra também todas as portas. Agora!
(Luz cegando a todos)
OUTRO
Não quero! Feche! Estou ficando cega!
UM
Saia daí! Reage! Precisa se mover.
OUTRO
Isso é desnecessário.
(Ambos iluminados sutilmente, se tornam quase uma sombra)
UM
Não tem que se sentir confortável... Estável... Está frio... Escuro...
Pra que tanto silêncio?
OUTRO
Eu gosto do silêncio. Ele me fala mais que esse turbilhão de ruídos.
Ouça! O- U- ÇA-! Ouvir o que vem daqui... Daqui... Só ouvir!
Você é capaz?
(Som de máquinas, multidão e carros)
UM
Mania de introspecção.
Abra agora essas janelas...
OUTRO
Meus nervos estão expostos.
Me isolo.
Me estouro.
Me arrebento.
Agüento o vazio e rompo com tudo isso.
UM
Preencha!
Insignificante... Insignificável...
Signifique!
OUTRO
As janelas são altas. Muito altas! Imensamente altas...
Olhe!
Pode ser fatal! Não quero cair.
Cair de novo... de novo... de novo... de novo e de novo.
Arrebentar no chão todos os ossos. Deixá-los expostos.
UM
Faz parte do combinado.
Os ossos intactos não sabem o valor do renascimento.
RENASCER! RESSUCITAR! RECOMENÇAR!
Mesquinha! Egoísta! Incapaz! Pretensiosa! Melindrosa...
Vai!
Abre as asas...
OUTRO
Asas! Asas... Não sou um pássaro... Nem um inseto!
Inseto... Insetos... Incertos vôos...
Quero o meu silêncio! Psiu!
Fechem. Fechem tudo. Janelas, portas, qualquer entrada de luz.
UM
Insuportável!
Vai ser bombardeado pelo seu próprio mundo.
Imoral!
Substituível!
OUTRO
Imortal!
Infinito!
Não escolha por mim.
Não deve.
UM
Mortal...
Finito...
Lastimavelmente... Covarde!
Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde! Covarde!
Repita comigo. CO- VAR- DE!
OUTRO
Não sou! Não sou! Não sou!
Me tornei algo!
Me tornaram algo!
Me impuseram algo.
Você! Eu?
Você? Eu!
Você! Eu?
EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU
EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU
EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU EU
Pensamento positivo!
(Risos)
UM
Abra as janelas. Veja-se no espelho. Se olhe!
NADA!
Recomece. A... BRA... A... BRA...
OUTRO
Fecho!
FE... CHO... FE... CHO... FE... CHO...
Logo meus cabelos vão ficar brancos. E meu rosto... Meu rosto vai se encher de riscos profundos marcados pelo tempo...
OUTRO
Não me acho! Não me acho! Não me encaixo nesse TODO!
UM
Você ontem!
Você hoje!
Você amanhã...
Você...
Depende de VO- CÊ!
OUTRO
Me diz...
E as janelas?
Por que são tão altas?
Vou abrir só as portas.
Tá muito escuro.
Vou voar...
Não! É muito alto!
UM
O seu silêncio?
Um suicídio involuntário.
Nada a dizer de concreto.
Subtexto... Contexto... Tudo desconexo!
OUTRO
Tá quente. Muito quente! Cada vez mais abafado... Sufocando... Asfixiando... Ar! Vento! Fôlego... (Respiração acelerada) Asfixiando...
Ar! Ar! Ar!...
UM
Não adianta querer entender. Não existe um certo ou errado. Tudo é possível se você estiver falando a verdade...
Escolhas. Lembra?
As suas... As minhas... As nossas...
OUTRO
As de todos!
UM
Olhos...
OUTRO
Você olhou!
UM
Mãos...
OUTRO
Você tocou!
UM
Boca...
OUTRO
Você beijou!
OUTRO
Eu quis! Escolhi! Fui capaz!
UM
Voe! Veja as janelas.
OUTRO
A luz... Ela me move como uma folha solta no vento.
Sem rumo...
(Barulho de multidão ensurdecedor)
Feche! Não ouço nada. Não consigo pensar... É insuportável...
Quero o meu silêncio!
(Batidas de portas e janelas. Barulho de multidão para bruscamente)
UM
Eu vou...
Não consigo mais ficar aqui... Nessa prisão... Sua... Não minha...
Voe!
Não precisa ficar.
Escuro...
Silencioso demais pra mim.
(Se afasta)
OUTRO
Feche bem as janelas... E tranque as portas. Não quero que mais ninguém entre aqui... Mais ninguém!
Só o silêncio... Só o meu silêncio!
(Apenas seu rosto mantém-se iluminado. Portas e janelas se fecham. Silêncio. Black out)