quarta-feira, 25 de maio de 2011



FALA


CENA 1:

Sala de interrogatório de uma delegacia. Uma mulher sentada em uma cadeira no centro do palco e dois homens andam pela sala.

HOMEM 1: Qual é o nome do cabeça da operação? Diga quem é ele. E quem sabe podemos amenizar as coisas pra você.

(Mulher se mantém muda e estática)

HOMEM 2: (Olhando nos olhos dela bem de perto) Você parece não saber o perigo que corre? Se continuar assim, vou arrancar essa sua língua já que não serve pra mais nada mesmo.

MULHER: Pode arrancar o que quiser. Não vou falar nada pra ratos como vocês.

HOMEM 2: Vadia! (Puxa-lhe pelos cabelos e ela cospe no seu rosto. Black out)

CENA 2:

A Mulher está caída no chão e o Homem 2 pisa em seu pescoço.

HOMEM 1: Vai mesmo querer morrer por causa desse bando? Você só tem a ganhar se colaborar.

HOMEM 2: Afinal... Se você fosse tão importante para os seus comparsas, não teria sido deixada para trás. (Ergue ela pelos braços)

HOMEM 1: Atentado contra a nação é algo imperdoável. Sabia? Acusar um chefe de governo então...

MULHER: Essa merda que vocês criaram... Isso está longe de ser uma nação e de ter democracia. Isso tudo virou uma teia de aranha e nos prende a esse sistema.

HOMEM 2: Olha bem pra mim, sua vagabunda! Quem você pensa que é pra nos desafiar assim?

HOMEM 1: Só precisamos do nome. Já sabemos quem é o seu chefe, mas precisamos ouvir de você. Se for esperta vai falar. Fala!

HOMEM 2: Anda, logo! Fala! Antes que eu perca a paciência de vez com você.

(Tira uma arma do bolso e coloca na cabeça dela)

MULHER: Atira! Acaba logo com isso! (Black out. Som de tiro.)

CENA 3:

Homem 1 anda de um lado para o outro. Entra Homem 2 muito alterado.

HOMEM 2: E então? O que vamos fazer?

HOMEM 1: Nada! Continuamos no escuro. (Luz no fundo da cena, a Mulher está caída no chão.)

HOMEM 2: E ela?

HOMEM 1: Não fala nada além de blasfêmias e insultos contra nós.

HOMEM 2: Eles querem respostas. Não temos mais tempo. Ela vai falar. (Vai até a Mulher e jogar álcool sobre ela.)

MULHER: O que é isso?

(Homem 2 pega uma caixa de fósforo)

HOMEM 2: E então? Quer queimar aqui mesmo? Vou adiantar o inferno pra você. ( Acende o fósforo.)

MULHER: Então queimamos juntos! (Levanta-se e pula sobre ele. Luz intensa no palco e na platéia. Barulho de fogo. Homem 1 olha em choque para a luz. Escuridão.)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

UM VINHO...





Luzes de várias janelas de prédio ao fundo. Som de carros e cidade.

Uma mulher atravessa o palco lentamente e outra mulher entra pelo lado oposto e as duas se cruzam. Som de buzinas.

Voz de Criança: Mãe!

Luzes em flashs, as duas mulheres correm de um lado para outro do palco.

Luz intensa na platéia. Som de batida de carro.

Black out.

Mulher: Eu não tive culpa.

Mãe: Meu filho!

Mulher: Ele atravessou...

Mãe: Eu não sei como ele soltou a minha mão.

Mulher: Foi tudo tão rápido.

Mãe: Aquela louca surgiu do nada.

Mulher: Ele entrou correndo na frente e eu...

Mãe: Eu tentei segurá-lo.

Mulher: Eu tentei parar o carro.

Voz de Criança: Mãe!

Mãe/Mulher: Não!!!!

Mulher: Aquele momento ficou gravado e a voz daquela criança fica se repetindo aqui dentro da minha cabeça o tempo todo.

Mãe: Ele gritou por mim! Um filho sempre chama a mãe quando esta em perigo.

Mulher: Ela me olhou de um jeito. Vi uma mistura de ódio e de dor. E que dor era a dela. E que dor me causou aquele olhar. Eu não vi ele correndo. Eu não vi. Não vi. Vi tarde demais.

Mãe: Eu não senti quando ele soltou a minha mão. Eu não senti. Não senti. Senti tarde demais.

Mulher: A única coisa que me resta é pedir perdão.

Mãe: Ele não vai mais voltar.

Mulher: Você não pode imaginar como me sinto.

Mãe:Tinha apenas três anos!

Mulher: Uma culpa, sem culpa. Mas latente, presente, talvez eterna.

Voz de criança: Mãe!

Mãe: Culpada?

Mulher: Não sei.

Mãe: Eu perdi a vida do meu filho.

Mulher: Eu perdi a minha vida.

(Som de batimento cardíaco acelerado, vai diminuindo até restar apenas o silêncio)

Voz de criança: Mãe!

Mãe/Mulher: Não!!!!

Mulher: Eu não pude frear a tempo porque...

Mãe: Bêbada!

Mulher: Foi só um vinho!

Mãe: Era só o meu filho!

Mulher: Vinho! Filho?

Mãe: Acabou!

Mulher: Matei! (Barulho de carros)

Mãe: Não solta a minha mão...

Mulher: Meu Deus!!!! (Som de freada de carro)

Voz de criança: Mãe!!!!!

(Black out)