Luzes de várias janelas de prédio ao fundo. Som de carros e cidade.
Uma mulher atravessa o palco lentamente e outra mulher entra pelo lado oposto e as duas se cruzam. Som de buzinas.
Voz de Criança: Mãe!
Luzes em flashs, as duas mulheres correm de um lado para outro do palco.
Luz intensa na platéia. Som de batida de carro.
Black out.
Mulher: Eu não tive culpa.
Mãe: Meu filho!
Mulher: Ele atravessou...
Mãe: Eu não sei como ele soltou a minha mão.
Mulher: Foi tudo tão rápido.
Mãe: Aquela louca surgiu do nada.
Mulher: Ele entrou correndo na frente e eu...
Mãe: Eu tentei segurá-lo.
Mulher: Eu tentei parar o carro.
Voz de Criança: Mãe!
Mãe/Mulher: Não!!!!
Mulher: Aquele momento ficou gravado e a voz daquela criança fica se repetindo aqui dentro da minha cabeça o tempo todo.
Mãe: Ele gritou por mim! Um filho sempre chama a mãe quando esta em perigo.
Mulher: Ela me olhou de um jeito. Vi uma mistura de ódio e de dor. E que dor era a dela. E que dor me causou aquele olhar. Eu não vi ele correndo. Eu não vi. Não vi. Vi tarde demais.
Mãe: Eu não senti quando ele soltou a minha mão. Eu não senti. Não senti. Senti tarde demais.
Mulher: A única coisa que me resta é pedir perdão.
Mãe: Ele não vai mais voltar.
Mulher: Você não pode imaginar como me sinto.
Mãe:Tinha apenas três anos!
Mulher: Uma culpa, sem culpa. Mas latente, presente, talvez eterna.
Voz de criança: Mãe!
Mãe: Culpada?
Mulher: Não sei.
Mãe: Eu perdi a vida do meu filho.
Mulher: Eu perdi a minha vida.
(Som de batimento cardíaco acelerado, vai diminuindo até restar apenas o silêncio)
Voz de criança: Mãe!
Mãe/Mulher: Não!!!!
Mulher: Eu não pude frear a tempo porque...
Mãe: Bêbada!
Mulher: Foi só um vinho!
Mãe: Era só o meu filho!
Mulher: Vinho! Filho?
Mãe: Acabou!
Mulher: Matei! (Barulho de carros)
Mãe: Não solta a minha mão...
Mulher: Meu Deus!!!! (Som de freada de carro)
Voz de criança: Mãe!!!!!
(Black out)
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