quarta-feira, 4 de maio de 2011

UM VINHO...





Luzes de várias janelas de prédio ao fundo. Som de carros e cidade.

Uma mulher atravessa o palco lentamente e outra mulher entra pelo lado oposto e as duas se cruzam. Som de buzinas.

Voz de Criança: Mãe!

Luzes em flashs, as duas mulheres correm de um lado para outro do palco.

Luz intensa na platéia. Som de batida de carro.

Black out.

Mulher: Eu não tive culpa.

Mãe: Meu filho!

Mulher: Ele atravessou...

Mãe: Eu não sei como ele soltou a minha mão.

Mulher: Foi tudo tão rápido.

Mãe: Aquela louca surgiu do nada.

Mulher: Ele entrou correndo na frente e eu...

Mãe: Eu tentei segurá-lo.

Mulher: Eu tentei parar o carro.

Voz de Criança: Mãe!

Mãe/Mulher: Não!!!!

Mulher: Aquele momento ficou gravado e a voz daquela criança fica se repetindo aqui dentro da minha cabeça o tempo todo.

Mãe: Ele gritou por mim! Um filho sempre chama a mãe quando esta em perigo.

Mulher: Ela me olhou de um jeito. Vi uma mistura de ódio e de dor. E que dor era a dela. E que dor me causou aquele olhar. Eu não vi ele correndo. Eu não vi. Não vi. Vi tarde demais.

Mãe: Eu não senti quando ele soltou a minha mão. Eu não senti. Não senti. Senti tarde demais.

Mulher: A única coisa que me resta é pedir perdão.

Mãe: Ele não vai mais voltar.

Mulher: Você não pode imaginar como me sinto.

Mãe:Tinha apenas três anos!

Mulher: Uma culpa, sem culpa. Mas latente, presente, talvez eterna.

Voz de criança: Mãe!

Mãe: Culpada?

Mulher: Não sei.

Mãe: Eu perdi a vida do meu filho.

Mulher: Eu perdi a minha vida.

(Som de batimento cardíaco acelerado, vai diminuindo até restar apenas o silêncio)

Voz de criança: Mãe!

Mãe/Mulher: Não!!!!

Mulher: Eu não pude frear a tempo porque...

Mãe: Bêbada!

Mulher: Foi só um vinho!

Mãe: Era só o meu filho!

Mulher: Vinho! Filho?

Mãe: Acabou!

Mulher: Matei! (Barulho de carros)

Mãe: Não solta a minha mão...

Mulher: Meu Deus!!!! (Som de freada de carro)

Voz de criança: Mãe!!!!!

(Black out)

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